Destaques

13 agosto 2018

Resenha - O Santo Inquérito

Título: O Santo Inquérito
Autor (a): Dias Gomes
Editora: Bertrand
Sinopse: Uma mensagem de bondade, de generosidade, de lealdade e de respeito humano O santo inquérito conta a história de Branca Dias, cristã nova e ingênua, filha de Simão Dias e noiva de Augusto Coutinho, que foi vítima de perseguição após cometer um ato que, aos seus olhos, julgava ser de extrema bondade: salvar de um afogamento o padre da cidade. Esta é uma das grandes peças brasileiras modernas, por suas intenções artísticas e por suas preocupações sociais. Baseando-se num episódio histórico – ou lendário, como o de Branca Dias, vítima da Inquisição que alguns estudiosos veem como uma espécie de Joana D’Arc cabocla –, Dias Gomes afasta, de imediato, as fáceis, espetaculares e vistosas pompas que um escritor romântico traria para o palco. O que lhe importa é o conflito entre a pureza da personagem, a sua boa-fé, a sua sinceridade, e aqueles que deturpam seu comportamento, enxergando-o como uma ameaça à ordem e ao sistema de ideias estabelecidos. • O santo inquérito é outra manifestação do criativo talento do mestre do teatro que é Dias Gomes, de quem o público já conhece as aclamadas peças O Bem-Amado, Campeões do mundo e O pagador de promessas. • Dias Gomes foi um dos mais prestigiados dramaturgos e autores de telenovelas brasileiros do século XX e foi eleito para a Cadeira 21 da Academia Brasileira de Letras em 1991.

O terceiro livro lido, por mim, de Dias Gomes, novamente me surpreendeu pela sagacidade crítica do autor em temas tão complexos, polêmicos, mas tão atuais pertencente à sociedade. O Santo Inquérito trata de uma peça baseada em um episódio histórico (ou lendário) de Branca, a Joana D'Arc brasileira, levada à fogueira pela Santa Inquisição.

Assim como em Pagador de Promessas, outro grande sucesso do autor, a crítica à Igreja Católica nessa presente peça é evidente. Branca Dias é uma jovem noiva, que vê Deus em tudo, na natureza, nas alegrias da vida, nas conversas, no amor. Noiva de Augusto Coutinho, filha de Simão Dias, vive uma vida em paz e comunhão com Deus, porém, em um encontro com Padre José Bernardo, ao salvá-lo de um afogamento no rio em que costumava banhar-se nas noites quentes, todo o seu comportamento é considerado lascivo e herege, confundido com os pecados que a Igreja condenava, a partir da visão do padre que, declaradamente (pelo menos aos leitores da obra), nutria sentimentos por Branca.

Os diálogos são muito bem escritos, a ingenuidade e inocência de Branca é patente, ao lado das falas más intencionadas do padre, que busca, em uma declaração ou comportamento pequeno condenar a moça por sua própria paixão, condenando-o a um sentimento proibido e ao pecado vivido, nem que fosse apenas por seus pensamentos.


O enredo aborda, ainda, a questão da perseguição sofrida pelos cristãos-novos, a polêmica da Bíblia traduzida, a luta do catolicismo para com os protestantes, que obtinham, cada vez mais fieis. A Inquisição, como ponto central ao final da peça é apresentada da forma cruel, como sabemos que foi; as falas dos inquisidores e do padre, injustas e contraditórias, lembra discursos de ódio hoje presenciados nas redes sociais e falas de conservadores ditos cristãos e seguidores de uma figura tolerante e compassiva, como fora descrito Jesus Cristo.

A edição da Bertrand, como todas as que li até o momento, está impecável, as capas seguem um padrão de ilustrações que me fascina, e o cuidado em manter as notas do autor, um prefácio bem escrito que nos abre para a escrita de Dias Gomes, também são diferenciais na edição. O Santo Inquérito pode ser lido em apenas um dia, uma tarde, algumas horas, assim como suas outras peças, mas a qualidade do conteúdo que sua obra carrega é inesquecível, assim como seus personagens, bem construídos e marcantes. Para quem não conhece o teatro brasileiro, Dias Gomes é uma indicação perfeita.

06 agosto 2018

[Filme] Uma Beleza Fantástica


Título: This beautiful fantastic
Direção: Simon Aboud
Elenco: Jessica Brown Findlay, Andrew Scott, Jeremy Irvine, Tom Wilkinson, Anna Chancellor.

Não é qualquer filme mais que me cativa como antes, e olha que meu repertório da sétima arte não é muito extenso. Mas em tempos de muita comédia pastelão ou filmes sobre alienígenas e ação, encontrar filmes como Uma Beleza Fantástica, disponível na Netflix, é um achado sem precedentes. Assim como Amélie Poulain, a produção tem, em suas peculiaridades e poesia, os ingredientes certos para inseri-lo em minha lista de filmes favoritos.
Bella Brown é uma jovem solitária que sonha em ser escritora de livros infantis e mantém um TOC de perfeccionismo em tudo. Exatamente tudo. Até em suas roupas, seus horários, suas escovas de dentes (!), tudo tem uma maneira de organização e disposição. Bella trabalha em uma biblioteca e nutre um grande pavor da natureza, explicado, muito comicamente, no início do filme. Em uma noite qualquer, após enfrentar, em alguns instantes, seu quintal muito mal tratado, em busca de um papel preso em uma árvore, Bella conhece Alfie, seu vizinho resmungão e amante de plantas. Desde então, a história de Bella ganha contorno com outros personagens que surgem ao seu redor. O cozinheiro de Alfie, Vernon (presenciar Andrew Scott como "mocinho" depois de vê-lo em Sherlock Holmes é um tanto estranho), e Billy, um inventor mecânico frequentador da biblioteca onde Bella trabalha.
A história não é para convencer. Tem sua beleza justamente em algumas peripécias e exageros muito bem dispostos durante o filme. Os personagens, por mais caricatos que talvez pareçam, cativam, cada um em suas ações, girando em torno de Bella, entre suas manias e medos. A poesia no filme está justamente no implícito nele. Uma personagem solitária, perfeccionista, mas sonhadora e amedrontada pelos pequenos desafios diários nas relações humanas que a vida lhe impõe. É um despertar de Bella que, só quem já viveu, pelo menos um pouquinho, como ela, vai entender a beleza de suas variações, decorrentes de poucas ações, mas que são significativas em contraponto ao seu isolamento anterior.
De sutilezas e trama simples, Uma Beleza Fantástica cativa desde o início e rememora, em pequenos detalhes, O Fabuloso Destino de Amélie Poulain, em uma produção eslovena muito bem feita, com atores envolvidos em seus papeis e uma história encantadora.

01 agosto 2018

Resenha - A Guerra dos FAE - Nova Ordem Mundial

Título: Nova Ordem Mundial - Guerra dos FAE #4
Original: New Word Order
Autor (a): Elle Casey
Editora: Geração Editorial
Sinopse: Quarto e último capítulo de uma série surpreendente de aventura e magia e agora? Como enfrentar a necessidade de sacrifícios de uma Nova Ordem Mundial para os Fae?
Jayne e seus amigos estão numa encruzilhada, tendo que enfrentar a batalha final que decidirá a formação da nova ordem exigida pelo mundo sempre em guerra entre os Fae da Luz e da Escuridão.
Jayne se encontra numa encruzilhada não somente no terreno da estratégia e da magia, mas também do coração, que está dividido entre seu anjo da guarda e seu amigo elemental, Chase e Spike. Acontecimentos inesperados darão um toque surpreendente de romantismo e lágrimas neste último volume da Guerra dos Fae.
Surpresas após surpresas são mantidas até o final, que será ainda mais surpreendente para os fãs da insolente e destemida Jayne. E estão de volta o bom humor com o duende Tim e suas palhaçadas, bem como todos os perigos de um mundo onde de cada personagem ou situação pode brotar uma revelação inesperada, exigindo novas lutas e difíceis adaptações.
O mundo de aventuras de Elle Casey em A Guerra dos Fae tem aqui um encerramento apoteótico e brilhante.

Último e quarto livro da série de fantasia de Elle Casey e eu não podia mais esperar a leitura desse desfecho. Acompanhei, desde a época de parceria com a Geração Editorial, o lançamento aqui no Brasil de seus livros e me encantei logo de primeira com o universo e personagens criados pela autora.

Jayne, nossa protagonista, continua uma boca suja, afrontosa, mas agora dividida, sentimentalmente, por dois rapazes que chamaram sua atenção e ganharam sua afeição. Um demônio, misterioso, calado, mas que fora pixielizado por seu amigo duente Tim, e o outro, súcubo, sexy e descabido em suas ações, mas que não estava à procura de nada sério com ninguém, devido a sua natureza. Porém, essa trama é apenas a pontinha de todo o drama que o quarto livro da série perpassa.

Os fae da luz e trevas continuam em seu embate, mas agora surgem orcs, seres de outro mundo que não do Aqui e Agora, os quais não deveriam estar em terreno humano, e agora, Jayne e seus amigos precisam combatê-lo, além de desvendar inúmeros segredos que rondam o complexo dos fae e o sumiço de dois amigos na última batalha travada que esteve com eles.

Elle Casey mescla, novamente, drama, aventura, romance e muito humor. É preciso enfatizar a amizade de Jayne e Tim, seu minúsculo duende que vive em seu ombro após ter suas asas cortadas. O humor ácido nas conversas entre os dois quebra toda a tensão que os personagens vivem sob os mistérios de suas rotinas como fae. Novamente, o universo criado pela autora deslumbra, por conta dos detalhes referentes aos seres sobrenaturais, às conversas, às histórias de origem de cada um. Até esquecemos que estamos lendo sobre crianças, principalmente quando pensamos em Jayne, tão amadurecida em seus poderes nesse último livro.
Porém, um dos fatos negativos sobre o desfecho que a autora escreveu foi a falta de ação ao final. Não sei se porque estou acostumada com séries que finalizam após uma grande batalha/guerra entre grupos antagônicos para depois obterem seu final feliz, mas senti muito a falta de cenas de ação nesse último livro. Muito se esclareceu, mas algumas pontas soltas permaneceram no ar. Acho que o quarto não deveria, ainda, ser o final da série, mas um quinto livro, com muito mais adrenalina e tensão entre os personagens, juntamente a alguns questionamentos esclarecidos, poderia ser um desfecho perfeito para a saga.

Outro ponto é uma ação importante, mas um tanto questionável, para o desfecho da protagonista. Foi criticada por alguns leitores, mas talvez não tenha sido intenção da autora trazer essa visão antiquada para sua trama, se levarmos em consideração a explicação que traz na obra. As mudanças ao final do enredo foram um tanto bruscas, principalmente por Jayne ter sido construída como alguém tão teimosa e decidida em suas opiniões.

No entanto, a escrita da autora cativa, bem como sua personagem, mesmo que muito infantil em algumas partes, é preciso discernir que ainda se trata de uma criança/adolescente e que tais ações são características dela mesmo. 
A edição da Geração está muito boa, as capas são lindas, mas, infelizmente, a série ainda contém mais 4 volumes lançados no exterior, mas para os brasileiros, essa foi a última lançada pela editora.

Leia a resenha dos três outros livros da série: #1 - #2 - #3
Alguns e-book's da série estão grátis na Amazon pelo Kindle Unlimited, adquira pelos links: #1 - #2 - #3 - #4

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