Destaques

04 abril 2018

Resenha - Olhos D'água

Nome: Olhos D'água
Autor (a): Conceição Evaristo
Editora: Pallas/FBN
Sinopse: Em "Olhos d’água" Conceição Evaristo ajusta o foco de seu interesse na população afro-brasileira abordando, sem meias palavras, a pobreza e a violência urbana que a acometem.
Sem sentimentalismos, mas sempre incorporando a tessitura poética à ficção, seus contos apresentam uma significativa galeria de mulheres: Ana Davenga, a mendiga Duzu-Querença, Natalina, Luamanda, Cida, a menina Zaíta. Ou serão todas a mesma mulher, captada e recriada no caleidoscópio da literatura em variados instantâneos da vida? Elas diferem em idade e em conjunturas de experiências, mas compartilham da mesma vida de ferro, equilibrando-se na “frágil vara” que, lemos no conto “O Cooper de Cida”, é a “corda bamba do tempo”.
Em "Olhos d’água" estão presentes mães, muitas mães. E também filhas, avós, amantes, homens e mulheres – todos evocados em seus vínculos e dilemas sociais, sexuais, existenciais, numa pluralidade e vulnerabilidade que constituem a humana condição. Sem quaisquer idealizações, são aqui recriadas com firmeza e talento as duras condições enfrentadas pela comunidade afro-brasileira.
Olhos D’água é datado de 2003 e foi escrito por Conceição Evaristo, autora que tomei conhecimento apenas no último ano. O livro de contos carrega uma escrita crua, bruta, com enredos e personagens tão próximos do real, tão significativos para uma certa realidade brasileira, negra, pobre, de favela, que muitas vezes conhecemos apenas de vista, dos noticiários nos jornais ou por filmes.

Conceição Evaristo traz em sua obra uma realidade que apenas o não-privilegiados conhecem de perto. Seus personagens e tramas são muito bem construídos a partir do que é vivido, todos os dias, em diferentes localidades brasileiras, por mulheres, homens e crianças, pobres e negros. A autora traz um protagonismo o qual não havia presenciado antes, não nos livros canônicos, escritos por homens ou mulheres brancas, da classe burguesa, pertencentes a uma classe erudita, que se limita a nos oferecer um olhar distanciado e meio parco sobre determinadas camadas populacionais. Conceição Evaristo não. Mulher, negra, relata histórias muito bem embasadas no real, porém, reescreve suas histórias com um lirismo e sutileza que não havia lido antes.

Ao retratar sobre morte, perdas, filhos, crenças, amor e paixão, a autora universaliza seu discurso literário para qualquer leitor identificar-se, porém com o diferencial de ambientar suas histórias a um protagonismo não muito comum em nossas leituras canônicas. Seu olhar é diferenciado para com esses personagens, é presenciado um carinho, uma sutileza nas descrições, um respeito para com as crenças de culturas que foram deixadas de lado. Ao mesmo tempo que universaliza sua escrita, Conceição Evaristo a particulariza, nos proporcionando uma leitura densa e melancólica, pois mesmo com um lirismo tão belo, suas histórias não deixam de carregar cenas tristes e finais não tão felizes.

No mais, não quero me deter na descrição de cada conto, mas é preciso enfatizar a mistura de pequenas histórias, rápidas tramas que nos conduzem sempre a reflexões grandiosas sobre a vida, sobre o outro, sobre nós mesmos. Como primeira leitura da autora, a obra não me decepcionou, pelo contrário, surpreendeu no trato com as palavras, na descrição de histórias tão próximas a quem está inserido em locais desprivilegiados e a pessoas que facilmente identifico ao meu redor.

Para saber um pouco mais sobre os contos: Resenha no Jornal Rascunho.

Comentários via Facebook

0 comentários:

Postar um comentário

Opine, reclame, exclame, comente. Mas uma dica: palavras sinceras são sempre bem-vindas.

Siga o blog no Facebook e meu perfil no Instagram.

@jenifferyara_ | @blogmeuoutrolado

© Meu Outro Lado – Tema desenvolvido com por Iunique - Temas.in