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19 novembro 2013

Resenha - Noites Italianas

Título: Noites Italianas; 
Original: The Romantic;
Autor(a): Kate Holden;
Editora: Novo Conceito;
Tradução: Carolina Caires Coelho;
Sinopse: Quanto Kate decidiu abandonar seu passado, em Melbourne, e começar uma jornada para dentro de si mesma, foi para um país reconhecidamente româtico. Enquanto se encantava com as ruínas de Roma e as praças de Nápoles, esperava encontrar - em ruas estrangeiras - sua verdade pessoal. Mas a peregrinação de Kate exigiu coragem. Encontrar o verdadeiro amor, ou, quem sabe, perder-se para sempre de maneira a não ter mais qualquer chance de resgate foram possibilidades reais na Itália... Especialmente para alguém que estava acostumada a viver entre as vielas da escuridão. Em um romântico, mas estranho país, com muitos - alguns bem significativos - casos de amor, e mais algumas noites de sexo sem compromisso, ela vai se perguntar se é, verdadeiramente, um espírito livre, ou uma atriz que decorou tão bem o seu papel de mulher sedutora que já não consegue desvencilhar-se dele...


Noites Italianas foi uma cortesia da editora Novo Conceito a qual, assim que saiu o catálogo, meus olhos castanhos logo se arregalaram de interesse e vontade. Acho que todo mundo aqui sabe como é quando um livro que faz totalmente a sua cara está ali, disponível para ser pego gratuitamente: o olhar brilha, a boca sorri, mil e uma ideias de como o enredo e os personagens devem ser se formam na mente. Aquele livro, que a sinopse dizia contar a história de uma mulher (a própria Kate Holden) que necessitava sair de seu lugar natal para reencontrar-se e entender-se após um tempo obscuro de vício em heroína e de venda do próprio corpo para conseguir manter as dívidas pagas, e que escolhera justamente a Itália como o lugar para plano de fundo de sua jornada, soou-me encantadoramente tentador. Como um bom fã de Comer, Rezar, Amar (aliás, adianto-lhes: para aqueles que acharam que a história, por se tratar de uma redescoberta pessoal e situar-se na Itália, é muito igual à epopeia espiritual de Elizabeth Gilbert: vocês estão enganados), sou apaixonado por relatos pessoais – livros de memórias – e principalmente aqueles que têm cunho intimista e introspectivo, e muito mais apaixonado ainda pelo lugar da linda e bela dolce vita. Quer dizer: o que mais eu poderia querer deste livro, que parecia ter tudo o que eu queria e mais um pouco?

Mas é aí que está o ponto: eu não encontrei no livro aquilo que eu pensei encontrar. Para começar essa discussão opinativa sobre Noites Italianas, o primeiro choque que encontrei foi que, apesar de ser um livro de memórias – onde os autores costumam tratar de si mesmos em, obviamente, primeira pessoa –, Kate Holden fala de si mesma em terceira pessoa. Eu não cheguei a pensar que tudo poderia desandar por esse fato; confiei na escrita da autora, e deu certo. O estilo dos relatos de Kate Holden, contados em terceira pessoa (“Ela”, como quase sempre é referida), deram à autora a margem para ser tão intensamente poética como conseguiu ser. Noites Italianas é como um enorme poema, que foi desmembrado para linhas em prosa, o qual manteve seu belo lirismo e seus floreios textuais próprios de uma linguagem poética. É uma escrita linda, de palavras lindas, de um tato e uma perícia textual belíssima que, mesmo em momentos carnais, sexuais ou dolorosos, consegue ser tão sutil quanto um céu noturno italiano.

Momentos esses os quais, fiquem todos avisados: compõem grande parcela do livro. Para ser bem franco, acho que em quarenta por cento (se não mais) do livro Kate Holden está ou fazendo sexo ou pensando em sexo. A personagem tem intrínseca à sua pessoa a prática sexual, ela gosta de fazer sexo (e, convenhamos, ela está na Itália). Tão é forte a questão sexual no texto de Holden que as “Partes” que dividem o livro levam justamente o nome de pessoas com quem Kate teve algum tipo de envolvimento carnal na Itália (fora a última, é claro). Porém, ainda que seja sexo retratado e em algumas vezes as palavras usadas sejam consideradas fortes demais para alguns, a poesia não se perde; a introspecção menos ainda. É absurdo, às vezes, a forma com que você parece estar dentro de Kate Holden. É como se você estivesse lendo sua pele, sua carne, não suas palavras. E o mais curioso de tudo é que a autora não se vale de irreverentes e complicadas discussões filosóficas para alcançar o seu interior: ela é simplória, mas numa narração rica e uma veia interminavelmente poética.

É corajosa, Holden. Acho que o fato de abandonar tudo o que se tem, todo o conforto, para buscar a si próprio, já é um grande fator que demonstra bravura, porém é perceptível o quão baqueada sentimentalmente esta mulher se encontra nas páginas do livro. Holden tem bravura não só por buscar novos horizontes longe de tudo o que tem, não só por tentar reconstruir sua vida após uma enxurrada de momentos ruins perpassarem por seus caminhos, mas também por ser ela mesma. Kate Holden é uma mulher complicada, sinceramente meio doidona, às vezes permissiva demais, às vezes submissa demais, entregue demais. Cheguei a momentos do livro em que olhei para aquilo que lia e realmente disse pra mim mesmo: “Gente, como ela pode fazer isso? Como ela se permite?” – entretanto, sabe aquele tipo de personagem que, mesmo fazendo tanta bobagem, algumas coisas as quais você não concorda, você não consegue deixar de amar? Não há como não amar a – essa talvez seja a frase mais clichê de todos os tempos, mas é verdade – complicada e perfeitinha Kate Holden. Ela é incrível, e eu realmente gostaria de ser amigo dela.

E, ah, e a Itália?... Eu sou suspeito para falar desse lugar, é claro: todo mundo que me conhece sabe que sou perdidamente apaixonado por tudo que é italiano – da arquitetura à gastronomia (com ênfase na última, é claro). Conheço muito da Itália: estudo muito sobre. Eu já me considerava um perfeito fã desse país, mas lá me veio Kate Holden também me causando isto: mais paixão e amor por este lugar. Talvez uma das coisas mais lindas que existam nesse livro seja assistir a Itália, e seu dia-a-dia, e sua arquitetura, e suas pessoas, e suas construções, e sua comida, pelos olhos poéticos de Holden. Sua descrição sobre o lugar é apaixonante, linda, de uma poesia sedutora (faz você querer conhecer aqueles lugares) e suave. Vale realmente a pena conferir.

Já quanto ao final, é um bom final. Os acontecimentos que levaram ao fim foram os mais tristes do livro, sem dúvidas, quanto à questão sentimental. O sentimental torna-se palpável nos últimos momentos, porém não meloso e chato (não caberia num livro e numa escrita tão madura algo assim; ao menos não de forma exagerada), e culmina em algo que é realmente já esperado da narrativa. Não é um final de reviravolta épica; é um final simples, calmo. Não tão bonito, porém libertador. Posso afirmar sem sombra de dúvidas que tem um dos finais mais reticentes que já li – e, por isso, um dos mais completos.

Noites Italianas é um livro que superou todas as minhas expectativas, e que fez em mim marcas bastante profundas. Algumas doloridas, mas edificantes – todas elas. De qualidade, de poesia, de introspecção, e de busca de si mesmo: um lindo livro. Que vale a pena ser lido com o mais bondoso e compreensivo dos olhares literários.

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12 comentários:

  1. Adorei a resenha <3
    Cate-land.blogspot.com

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  2. Adorei a frase "Posso afirmar sem sombra de dúvidas que tem um dos finais mais reticentes que já li – e, por isso, um dos mais completos.". Sempre comento que me apaixono por livros que trazem consigo aquela realidade da vida (as reticências).
    Não solicitei este, ainda não sei se gostaria de lê-lo, mas gostei de saber que agrada.

    Beijos

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  3. Quando vi nos lançamentos de outubro ( se não me engano) que este livro estava incluído eu fiquei completamente apaixonada. Amo esse tipo de livro e acho que ele tem a receita perfeita: busca de si mesmo, Itália, sexo. hahaha
    Amei muito a resenha porque me deu uma visão bem mais ampla de todo o livro e me deixou com mais vontade de ler *-*
    http://www.viciodiario.com/

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  4. Oie Breno =)

    Esse livro não me chamou muito a atenção na época do lançamento. Na verdade essa a primeira resenha que leio do livro, e mesmo ele ainda não me despertando aquela vontade de ler, a história em si me pareceu legal.

    Gosto de livros que não são muito descritivos mas que conseguem da mesma forma transportar o leitor para a narrativa.

    Talvez eu leia se tiver oportunidade ^^

    Beijos;***

    Ane Reis.
    mydearlibrary | Livros, divagações e outras histórias...
    @mydearlibrary

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  5. O livro parece ser MUItO bom e já está na minha lista de leitura pra esse ano/mês KKK adorei a sua resenha e ela me fez perceber que o livro talvez não seja o que eu estou esperando, mas vou me arriscar ,mesmo assim =)

    Abraços,
    Marinah | Blog Marinah Gattuso
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  6. Se você é apaixonada por relatos pessoais, você deveria ler Into the wild do Jon Krakauer ou assistir o filme que é tão bom quanto :)

    Um abraço,
    http://oepitafio.blogspot.com.br/

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  7. O livro parece ser tão bonito! Mas não é meu tipo de leitura. Quem sabe um dia.

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  8. Adorei esse livro, não o conhecia, mas chamou minha atenção, vou por na minha lista e da biblioteca onde faço estágio
    beijos

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  9. Adorei a resenha, não o conhecia mas já vou pro na minha lista
    beijos

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  10. Adorei a resenha, não conhecia esse livro, mas já vou colocar na minha lista
    beijos

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  11. Não conhecia o livro, mas me empolguei loucamente (como não empolgar com essa resenha?). Muito raro ver um livro com expectativas TÃO altas não decepcionar hahaha Que bom que esse conseguiu tamanha façanha!
    Quanto a narrativa, acho que também estranharia bastante ver um livro de memórias em terceira pessoa... Que bom que deu certo.

    Beijos
    http://www.semquerermeintrometer.com/

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  12. Não conhecia o livro e fiquei bastante entusiasmada e empolgante com a sinopse dele. Espero conseguir ler um dia. Depois direi o que achei se algum dia chegar a ler. Muitos beijinhos e até breve!!

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