Nome: Um Gato de Rua Chamado Bob;
Nome original: A Street Cat Named Bob;
Sinopse: Quando James Bowen encontrou um gato ferido, enrolado no corredor de seu alojamento, ele não tinha ideia do quanto sua vida estava prestes a mudar. Bowen vivia nas ruas de Londres, lutando contra a dependência química de heroína, e a última coisa de que ele precisava era de um animal de estimação. No entanto, ele ajudou aquele inteligente gato de rua, a quem batizou de Bob (porque tinha acabado de assistir a Twin Peaks).
Depois de cuidar do gatinho e trazer-lhe a saúde de volta, James Bowen mandou-o embora imaginando que nunca mais o veria. Mas Bob tinha outras ideias. Logo os dois tornaram-se inseparáveis, e suas aventuras divertidas — e, algumas vezes, perigosas — iriam transformar suas vidas e curar, lentamente, as cicatrizes que cada um dos dois trazia de seus passados conturbados.
Um Gato de Rua Chamado Bob é uma história comovente e edificante que toca o coração de quem a lê.
Uma coisa que posso começar dizendo com
toda a certeza sobre Um Gato de Rua
Chamado Bob: quem gosta de animais – principalmente dos queridíssimos
bichanos gatinhos – está suscetível
às lágrimas logo nas vinte primeiras páginas.
Ou será que só eu sou um manteiga
derretida com gatinhos?
Não sei se a Jeniffer Yara sabia disso
quando anunciou que iria me dar o livro para ler e resenha-lo. Acho que ela percebeu
essa minha paixão por gatinhos (e, sim, necessariamente com o diminutivo “inhos” para deixar ainda mais claro o
quão sou louco por eles) assim que me contou, numa segunda ou terça-feira, que
havia solicitado de cortesia o livro de James Bowen da Novo Conceito. Provavelmente ela deve ter percebido meus olhos
brilhando, apaixonados, enquanto se passava em minha mente um gatinho cor de
laranja lindo que havia visto uma vez numa reportagem do Jornal Nacional.
Aliás, não provavelmente – com certeza ela
percebeu, já que, alguns minutos depois, se virou para mim e perguntou
casualmente:
- Você quer o livro pra ler e resenhar,
Breno? Eu não vou ter tempo de lê-lo mesmo...
Preciso dizer que quase a matei sufocada
num abraço de urso depois disso?
Uma semana depois, eu vim descobrir a
história de Bob. Ou melhor – a história de James Bowen: um homem que,
desgostoso com a vida, achou um laranjinha escondido, mal cuidado e abandonado,
num canto escuro do andar térreo do prédio onde morava. Ao aproximar-se deste
gatinho e perceber a personalidade e coragem que havia em seus olhos – coisas
que seriam a catapulta e lenha para as diversas vitórias que ambos conseguiriam
num fiel futuro que construiriam juntos –, James mal poderia imaginar que,
muito logo, aquele pequeno felino acabaria seguindo (literalmente) seus passos
– e fazendo mais que isso: dando-lhe forças para ultrapassar as barreiras,
iniciar as batalhas e fazê-lo reviver o fôlego pela vida o qual há muito havia
perdido. Se é que, um dia, este londrino já o houvesse vivido.
O
que eu vou dizer é bem clichê de resenhas, mas não há como não usar aqui: eu
não conseguiria descrever nunca o quanto que Um Gato de Rua Chamado Bob me apaixonou. Gosto muito, muito de
livros sinceros e verdadeiros, e este é um deles. É um livro que fala sobre o
modo com que um gato e um humano ganham gradativamente lealdade e constroem a
amizade que os levaria a conquistas muito mais importantes do que qualquer um
de nós poderia imaginar – para ser claro, um (só um dos inúmeros) exemplo: a
recuperação química do vício de James Bowen em drogas.
Apesar de ser forte em vários ângulos,
como nas ferrenhas críticas que sutilmente lhe compõem – críticas contra os
maus tratos contra animais; contra os preconceitos contra usuários de drogas;
contra os preconceitos contra artistas e trabalhadores de rua (“invisível”, é
como Bowen se diz ser quando, só, tenta ganhar sua vida nas calçadas) –, é um
livro muito tranquilo. Que relaxa com o passar das páginas. É apaixonante a
forma calma e sensata com que a narração nos embala para os diversos e lineares
pontos da história de Bowen – história a qual, muito mais de uma vez, me fez
lagrimar e chorar. As memórias deste homem, repletas de maus bocados e dores de
uma criança maltratada e humilhada que foi, são contadas com honestidade e
humildade, coisas as quais me fizeram admirar esse homem profundamente.
Pessoalmente, cheguei às lágrimas copiosamente depois de uma das primeiras
vezes que James cita sua infância, adolescência e início de maturidade: a forma
com que esse homem aborda todos os caminhos tortuosos e estágios que o levaram
a um vício destrutivo e dilacerante é devastadora – mas emocionante, já que
houve a superação. E, eu não sei meu caro leitor, mas eu não consigo não me
emocionar e impedir meus olhos de brilhar quando leio ou vejo algo sobre um
simples ser humano que superou mais do que suas costas poderiam aguentar.
E principalmente: superou com a ajuda do
que muita gente despreza, maltrata e repugna. Um simples gatinho.
Aliás, Bob, como já foi dito, é o grande
divisor de águas na trajetória de Bowen. Bob é um ser muito inteligente, e
imaginá-lo fazendo todas as fofices e estando nas situações que só um amante de
gatos como James Bowen pode explicar é maravilhoso – e um ótimo remédio contra
o cansaço e mau humor, se me permitem indicar (80% do livro eu li nas duas
horas que passo indo e vindo da faculdade, no ônibus, então, acreditem, eu sei
do que estou falando). Cativante, a forma com que é retratada a humanização de
um homem na visão das pessoas por vê-lo com um animal nos desperta muitos
questionamentos. É também curiosa a forma com que James tenta, através de
trejeitos, ações e reações de Bob, desvendar de onde ele viera, seu percurso,
sua história – além de que a intensidade da existência de Bob na vida de Bowen
chega a impressionar e, principalmente, a nos emocionar. E muitas e muitas
outras coisas que eu poderia falar sobre Bob, James e suas aventuras e
desventuras, mas que fariam essa resenha ter mais de duas páginas de Word – e,
consequência óbvia e inevitável, minha carta de demissão enviada cordialmente
pela Jeniffer Yara numa tarde monótona e depressiva de domingo*.
Gosto de definir uma palavra para cada
livro, uma palavra que resuma o que mais aquela obra me causou, e acho que
tenho a palavra para Um Gato de Rua
Chamado Bob: cativante. O relato de o quanto que uma verdadeira amizade
pode resgatar a esperança e a essência até do mais descrente dos homens e mais
perdido dos animais é digna de aplausos. Um
Gato de Rua Chamado Bob só é contraindicado para aqueles que não gostam de
animais, de se emocionar e de ler uma linda história de resgate de vidas – mas,
para o resto (onde, com muito orgulho, me incluo!), é um dever lê-lo. Lê-lo,
partilhá-lo e guarda-lo num lugar importante da estante e do coração.
E chega de deixar esse negócio cada vez
maior, ou vou mesmo ser demitido.
* Isso é só brincadeira, gente. Por favor.
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